segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Como discernir o que é sinal de Deus?

Desde o início, Deus se comunica com o ser humano de forma a não somente transmitir mensagens, mas fazendo doação de Si mesmo a nós. "Por uma vontade absolutamente livre, Deus revela-se e dá-se ao homem” (Catecismo da Igreja Católica, art. Nº 50).
O Senhor usa de vários meios para nos transmitir Seus designíos e Sua Pessoa. Temos como alguns exemplos os anjos que são Seus mensageiros; os dons do Espírito Santo; a Sagrada Escritura e também a Eucaristia, sacramento de máxima entrega.
Não bastasse tudo isso, ainda há a "comunicação do amor de Deus" através de sinais. São acontecimentos que significam algo mais que o simples andamento ou consequência de fatos. Deus nos fala nas entrelinhas das ocorrências incomuns ou da rotina. Até mesmo Jesus percebeu cada passo de Seu ministério em eventos comuns que poderiam passar despercebidos, desde a falta de vinho numa festa de casamento (cf. Jo 2,1-12) até quando se aproximava o tempo certo da “Sua entrega na cruz”. Porém, é necessário ter cuidado e discernir sinceramente se estamos diante do que é um apontamento do Senhor ou se estamos nos aproveitando de um acontecimento qualquer para justificar algo que temos no coração.
Preferimos nos enganar, nomeando forçosamente simples ocorrências como resposta do Alto, dada a grandiosidade do desejo. Desviamo-nos de uma verdadeira leitura da orientação divina, nos deixando levar por ideias fixas e obstinação de coração. Quando estamos com a mente e sentimentos tomados, parece que tudo conspira e confirma na direção tanto do objeto de desejo como para traumas, complexos e impressões que trazemos. Assim, no futuro, só nos decepcionaremos com o Senhor e buscaremos culpar os homens que não nos pareceram favoráveis.
Para interpretar corretamente a fala de Deus é importante, primeiramente, nos desfazermos dos nossos apegos e conceitos tendenciosos, estarmos livres para aceitar aquilo que não nos é agradável, as exortações e a direção do que Ele quer consertar em nossa vida.
Outro ponto é cultivar uma íntima amizade com o Senhor, peça a graça de amá-Lo independente dos favores. Gaste tempo em Sua companhia e saiba que a iniciativa de sinais será sempre Dele; o que não nos isenta da necessidade de termos uma constância na oração e de nos relacionarmos com o Senhor.

Depois que Deus mesmo se encarrega do sucesso do empreendimento e da graça que Ele quer conceder, Jesus ordena a dois de Seus discípulos: ”Ide a essa aldeia que está defronte de vós. Entrando nela, achareis um jumentinho atado, em que nunca montou pessoa alguma; desprendei-o e trazei-mo. Partiram os dois discípulos e acharam tudo como Jesus tinha dito” (Lc 19,30-32). Os fatores do outro lado, no campo da missão, encontram elementos correspondentes à ordem dada por Jesus, mas isso não significa que essa providência se manifeste no primeiro momento. Deus enviou Moisés ao faraó, mas o soberano do Egito foi resistente em libertar o povo do Senhor. Podemos encontrar barreiras que o Altíssimo sinaliza como sendo Sua vontade para nós.
Na verdade, aprenderemos a interpretar corretamente os sinais com um treinamento. Com o passar do tempo, se mantivermos uma amizade verdadeira com Deus e nos exercitarmos nesse processo de intuir, empreender na ordem divina e prestar atenção aos resultados, aprenderemos a olhar um fato, desde o início, e saber se é realmente um sinal do Senhor.
O Deus a quem seguimos é bondoso e quer fazer aquilo que é o melhor para nós, por isso está em constante comunicação.
Ele é fiel e nos conduz. "Se o seu projeto ou a sua obra provém de homens, por si mesma se destruirá" (At 5, 38).

domingo, 30 de outubro de 2011

A força do amor

Quando um homem e uma mulher se unem diante de Deus para formarem uma família, esse relacionamento se transforma num instrumento de cura um para o outro. Eu tenho muita pena quando um verdadeiro sacramento do matrimônio é abandonado, quando o marido e esposa decidem viver um longe do outro por causa das feridas, que um acabou causando no outro ao longo de suas vidas. Eu tenho muita pena porque esse relacionamento longe de Deus se transformou numa arma, porque conviveram juntos e sabem dos limites um do outro.
Qual a maneira concreta por meio da qual o sacramento se torna instrumento de cura um para o outro? "Meu filho, faze o que fazes com doçura" (cf. Eclesiástico 3, 19ss). Se você faz todas as coisas com doçura, você ganha o afeto da pessoa que está com você; quando somos doces, mais do que sermos estimados e reconhecidos nós ganhamos o afeto da pessoa, porque afeta a pessoa que é querida e é amada. O que é dar afeto? É você afetar a pessoa; e nós afetamos uns aos outros quando no decorrer do dia fazemos tudo o que devemos fazer com doçura.
Eu não estou falando de coisas que fogem do seu dia a dia, estou falando das coisas que você faz no ordinário da vida. Quando prepara a mesa do café, fazendo do jeito que o seu marido gosta, do jeito que seus filhos gostam de se sentar à mesa, preparando as coisas com carinho, porque você já os conhece, você já sabe o que cada um vai pegar na mesa. Estou falando da maneira que você chega ao seu trabalho, da forma que você dirige; eu estou falando do momento do almoço ou do jantar que vocês se encontram para compartilharem a refeição, de uma palavra que você dirige à sua esposa. Já que você tem de fazer essas coisas, faça-as com ternura, faça-as de forma doce. Não é fazer mais coisas, é fazer tudo o que você já faz com bondade e ternura. Existem pessoas que dizem “mas, eu já faço tudo o que ele gosta”, mas, às vezes, falta doçura no fazer. Não fez de maneira terna. Não importa só darmos ou fazermos coisas, mas a forma como as damos e as fazemos.
A Palavra de Deus nos diz que quando agimos assim, ganhamos mais do que uma estima, e sim, o afeto. Estima é como ir levar uma joia ao joalheiro e dizer: "Quanto o senhor estima que vale esta joia?", ou seja, é aquilo que tem valor por si só, é aquilo que admiramos. Admirar é reconhecer o valor do outro, e na admiração há uma certa distância, mas o afeto é diferente, não há admiração apenas. Nós podemos admirar até um inimigo, você pode até reconhecer que o seu inimigo tem qualidades, mas casamento sobrevive de doçura, de ternura, de toque, ou seja, a pessoa foi atingida por outra que está na mesma condição que ela. Às vezes nós amamos uma pessoa que não nos ama, mas a força do amor é tão grande que quando passamos a amar aquela pessoa, ela que não nos amava antes passa a nos amar. É tão grande a força do amor que você que ama acaba fazendo a outra pessoa o amar também. É algo simples? Sim, é simples. Mas é fácil amar? Fácil não é, mas é o único caminho para a transformação da outra pessoa.
Quando nós queremos que uma pessoa mude há três coisas simples e poderosas a fazer:
1º) Você deve utilizar no relacionamento a máxima exigência com você mesmo;
2º) Você deve ter o máximo de compreensão com a outra pessoa e
3º) Ter sempre um sorriso para a outra pessoa.

No casamento nós queremos o máximo de exigência com o outro e o máximo de compreensão conosco, mas o que transforma não são as exigências com os demais, mas sim com nós mesmos. É preciso haver exigência com nós mesmos e compreensão com os outros.
Muitas vezes, erramos porque colocamos o foco no lugar errado. Quando eu cobro do outro o que eu não dou, as coisas não mudam. Como é diferente um casal que troca palavras de carinho, de apoio, de elogios! Como é bom encontrar um casal que se promove e que se ama! Como é bom encontrar uma mulher apaixonada pelo marido, que, quando tem algo a dizer dele, é sempre uma coisa boa. Como é bom encontrar um marido que ama, que tem uma verdadeira devoção à sua mulher. É claro que há brigas para que ambos coloquem as coisas nos eixos; o que não deve haver são brigas destrutivas. Por outro lado, como é ruim encontrar casais que só têm palavras ruins e críticas mordazes um para com o outro; censuras que, quando feitas, você não sente ternura, só uma punhalada no coração.
Quantos casais destroem os casamentos por causa dessas críticas, pois, geralmente, estas não permanecem só entre os cônjunges, mas transbordam para os filhos, visto que, em pouco tempo, pai e mãe começam a ser cruéis com os estes [filhos].
A Palavra de Deus se preocupa tanto com isso que, São Paulo, em uma de suas cartas, afirma que um dia nós vamos prestar contas de cada palavra inconsiderada que dissemos, porque a maioria das feridas existentes dentro de um casamento acontecem por causa de nossas declarações. "A flecha atirada e a palavra proferida não têm volta", diz um provérbio. A palavra fere como a flecha, pois quantos matrimônios se esvaziaram por palavras malditas. Quantos casais entraram nos casamentos felizes e encantados e no momento de um apoiar o outro começaram as palavras de destruição. Irmãos, nós vamos prestar contas a Deus por causa destas palavras de destruição!
Se os maridos soubessem o quanto as palavras ditas na hora do nervoso e da raiva destroem as mulheres eles não as diriam. Porque a raiva e as brigas passam, mas as palavras ficam lá dentro, "cozinhando" no coração da pessoa a quem você ofendeu. Da mesma forma, se as mulheres soubessem a força das palavras proferidas por elas contra o marido elas também não diriam. Homem tem a mania de fazer de conta que não está ouvindo, mas aquilo fica armazenado dentro do coração e quando "explode" leva junto o casamento da pessoa.
Há coisas que não são amor. Nós somos enganados a todo momento pelas novelas, pelos filmes, com mulheres e homens perfeitos, com o beijo perfeito. Isso é mentira, isso é ilusão, isso não existe! Você quer saber o que é amor? É quando um homem olha para a esposa e sabe que ela teve um dia difícil, por isso, ela está sendo áspera nas palavras, e para não brigar com ela, ele se cala para não se desentender com ela. Amor é quando você está numa casa, numa família mais pobre e pega aquele pedaço que mais gosta e põe para outra pessoa porque você quer o melhor para ela. Amor passa por uma panela de carne. Amor é quando depois de ter brigado, de ter discutido, ainda preparar uma cama gostosa para os dois dormirem, pois não conseguem dormir sem dizer uma palavra boa um para o outro. Isso é amor.

sábado, 29 de outubro de 2011

Como olhamos para o passado?

É interessante perceber como aquilo que vivemos em nossa história acaba exercendo uma forte influência sobre o que somos e sobre o que vamos nos tornando na vida.
Nosso passado não determina o nosso presente, e isso, principalmente, quando nos submetemos a Deus, contudo, ele é um elemento constitutivo do que somos e com ele precisaremos tecer um constante diálogo de "ressignificação".
Todos temos um passado e uma história, e é ótimo que seja assim. E essa história, muitas vezes, comporta marcas e dores profundas: perdas, humilhações, angústias e medos. Entretanto, alguém sem história – ou que dela se oculta – é alguém sem identidade e sem um solo concreto para pisar, pois, por mais dura que esta tenha sido, ela precisa ser acoplada conscientemente ao todo que nos compõe, em um esforço voluntário de "reler" os acontecimentos sob uma nova ótica: a ótica do amor e da revelação de Deus.
Os fatos que já aconteceram, aconteceram... Sabemos que eles não poderão mais ser mudados objetivamente – na realidade dos fatos –, todavia, cremos que estes podem ser transformados subjetivamente – dentro de nós – a partir da maneira como os contemplamos, e a partir do sentido (significado) que vamos propondo a eles durante nossa existência.
O passado passou, mas, de alguma forma, ele continua acontecendo dentro de nós. Por isso, precisaremos sempre "ressignificar" os acontecimentos, não os maquiando de maneira alienada, mas os submetendo ao olhar amoroso de Deus, que de tudo é capaz de extrair um bem e um sentido maior.
O problema não é olhar para trás, pois é até preciso fazê-lo em muitos momentos da vida, o problema é com que "olhar" contemplamos o passado. Quem olha para trás com mágoa/tristeza e pena de si, aprisiona os fatos de seu passado em uma lógica de derrota, não dando a Deus a oportunidade para extrair do mal um bem superior (cf. Rm 8,28) e para apresentá-los em uma nova lógica, de vitória e de vida.
Se olharmos a partir de Deus nossa história e passado, conseguiremos, aos poucos, inutilizar nossos fantasmas e acender novas luzes na compreensão do que somos.
Nosso passado – assim como toda a nossa história – é um lugar de Revelação para nós, não temamos enfrentá-lo, pois somente a partir de um maduro encontro com ele conseguiremos, de fato, compreender aquilo que somos, e poderemos dar as necessárias respostas que a vida nos exige.
Submetamos a Deus nossa história e emprestemos d'Ele o olhar para contemplá-la... Assim, de fato, seremos mais inteiros e mais experimentados para a vida enfrentar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Cordeiro que tira o pecado do mundo

A aventura vivida pelos primeiros discípulos de Jesus foi marcada pela figura de João Batista, que soube desaparecer diante daquele que é o verdadeiro "Cordeiro, que tira o pecado do mundo" (cf. Jo 1, 29-34). Sua missão foi de precursor, abrindo espaço para Aquele que deveria vir, Redentor, Salvador, Filho de Deus feito homem, Cordeiro que tira o pecado do mundo, expressões provocantes que parecem de outras épocas e são atuais no "tempo que se chama hoje" (cf. Hb 3,13).
O domínio crescente da técnica em seus diversos âmbitos tem suscitado desconfiança em muitas pessoas quanto às perspectivas de salvação oferecidas pela religião. Parece que tudo ficou resolvido, pois temos remédios suficientes, novas soluções cirúrgicas, perspectivas de controlar as forças da natureza, previsões meteorológicas mais precisas e daí por diante. Tornamo-nos donos do mundo e não precisamos de Deus? Será que precisamos de salvação ou de um salvador? A pergunta é recorrente em muitos ambientes e no interior de muitas pessoas.
Quando Deus é apresentado como um quebra-galho, ou a prática religiosa é considerada uma estrada para eventual prosperidade, que pouco a pouco se revela fátua, dura muito pouco a religião. Se Deus é visto como guarda de trânsito a vigiar os passos das pessoas para multá-las com penas de várias categorias, ou ainda se alguém quiser criar alguma espécie de divindade à sua imagem e semelhança, não é este o cristianismo.
Para que se tire o pecado do mundo, é preciso saber o que significa isso! Se pecado for uma infração a um código de comportamento, ou apenas aquilo que me dói, não chegamos à profundidade da indicação feita por João Batista a respeito de Jesus Cristo.
Afinal de contas, o que é o pecado e de que mesmo Jesus veio nos salvar? A resposta é construída a partir de um encontro com o Senhor Jesus Cristo, no qual Ele mesmo nos revela que o amor de Deus é o ponto de partida. Saber-se amado e acolhido pelo Pai é condição para compreender o conceito de salvação na compreensão cristã. Pecado é ser infiel a um pacto de amor, a uma aliança de vida que resulta de tal encontro. Trata-se primeiro de uma amizade profunda que, rompida, prejudica primeiro à parte que lhe é infiel. Não é que Deus fique lá do alto chorando pelas nossas faltas, pois Ele é Amor que se manifesta em toda a sua exuberância quando perdoa. O prejuízo é todo nosso quando não acolhemos Sua oferta de amor. Temos nas mãos o tesouro mais precioso e provocante, entregue à nossa liberdade. Dá trabalho saber o que fazer com ele!
Um homem ou uma mulher, quem sabe a pessoa mais inteligente do mundo, com possibilidades de resolver a maior parte dos problemas de sua vida, não há de se sentir limitada ao professar a sua fé, que não limitará seus conhecimentos, mas ampliará em profundidade e horizonte o seu ser. Trata-se de encontrar o sentido da existência num encontro de amor com alguém em quem se crê. E crer é uma escolha livre que conduz a apostar em Deus e só em Deus para viver. O resto será consequência! Sua escolha de fé se revelará inclusive esclarecedora das descobertas que a ciência puder oferecer-lhe.
No âmago de suas decisões, tal pessoa descobrirá que existe um mistério chamado pecado, com o qual pode comprometer os passos dados. E sábio ou culto, jovem ou adulto, doente ou sadio, empregado ou desempregado, verá brotar dentro de si o grito pela salvação, que só pode vir de Deus. E pedirá perdão, e ficará feliz quando ouvir "eu te absolvo de teus pecados!" Trata-se aqui de cada um de nós!
O anúncio de libertação plena vem da voz de João Batista que ecoa pelos séculos: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". Ele que tudo pode e tudo sabe, que vive desde sempre (eu creio!), caminha pelas estradas do mundo e pelos atalhos de minhas perguntas, amor que se imola para que se restaure o amor nesta terra (eu amo!) e semeia rumo novo para a vida das pessoas (eu espero!).
Descobrirei que a paz que Ele oferece não existe no mundo e sairei anunciando que é bom viver! Tendo nas mãos o estandarte da salvação que vem do Cordeiro, que tira o pecado do mundo, Jesus Cristo, visitarei todas as situações humanas nas quais estou envolvido, em Seu nome levarei sentido às dores e dramas das pessoas, às suas alegrias e esperanças. A maior ciência será a do amor. "Eu vi e dou testemunho!" (Jo 1, 34)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Como vencer a violência

A Igreja ensina as razões profundas da violência; acima de tudo está num coração sem Deus, sem amor ao irmão, o qual não é visto como “imagem e semelhança de Deus”. E quando Deus é retirado de cena, o homem ocupa o lugar d’Ele e a dignidade humana já não é mais respeitada. O "não" dito ao Senhor acaba se transformando em um "não" dito ao homem, por isso vemos hoje a pior de todas as violências: o aborto e a eutanásia, o sacrifício da vida humana; além dos assaltos, sequestros, roubos, corrupções de toda ordem, pedofilia, estupros, incestos, violência nos lares contra as crianças, entre outros.
Não basta encher as nossas ruas de policiais armados e bem equipados para acabar com a violência – embora isso seja necessário para combatê-la de imediato –; é preciso mais. É preciso a "educação para a paz". Essa educação exige que se ensine às crianças e aos jovens, nos lares e nas escolas, a dignidade de todo e qualquer ser humano. A moral cristã tem como base essa dignidade. Tudo aquilo que a Igreja condena como imoral é porque fere a dignidade da pessoa. A base da violência está na falta da vivência moral e na relativização do que seja o bem; o mal tem gerado muitas formas de violência.
Um fator de importância máxima na questão da violência é a família, pois ela é a “escola de todas as virtudes”, e é nela que a criança deve aprender com os pais e os irmãos a respeitar e a ser respeitada. Mas como vai a família? Infelizmente mal; a imoralidade tem destruído a família e seus valores cristãos. Muitas estão destruídas e há muitos filhos sem a presença imprescindível dos pais para educá-los. Milhares de adolescentes e jovens ficam grávidas sem ao menos terem um lar para receber seus filhos. Como disse o saudoso Papa João Paulo II, no Brasil há milhares de crianças “órfãs de pais vivos”. Que futuro terão essas crianças? Muitas delas acabarão na rua e no mundo do crime e da violência. Sabemos que quase a totalidade dos nossos presos são jovens.
E por que tantos jovens acabam no mundo do crime? Porque lhes faltam um pai e uma mãe que lhes ensinem o caminho da honradez, da virtude, da escola e do trabalho. O trabalho é a sentinela da virtude.
Hoje quase não faltam escolas para as crianças, nem mesmo catequese nas paróquias, mas faltam os pais que as conduzam à escola e à igreja. Portanto, sem a reestruturação da família, segundo o coração de Deus, na qual não existam o divórcio, a traição, o incesto, as brigas, o vício, o estupro, a pedofilia, etc., não se poderá acabar com a violência na sociedade. E  sobretudo, sem Jesus, sem o Evangelho, sem a vivência moral ensinada pela Igreja de Cristo, não haverá paz verdadeira e duradoura. Sem isso será inócuo lutar pela paz. Diz o salmista que “se não é Deus quem guarda a cidade, em vão vigiam os seus sentinelas” (Sl 126, 1).

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O milagre de hoje

Sabe quando nos deparamos com uma palvra que, embora conhecida, disperta algo novo em nosso mais profundo ser? Foi isso que experimentei estes dias enquanto rezava com a passagem de João 11, a qual narra a Ressurreição de Lázaro. Fiquei "encantada" com o que ela me despertou. Diz a Palavra que Jesus era amigo de Lázaro e de suas irmãs Marta e Maria, mas sendo avisado da doença de seu amigo, demorou-se ainda dois dias no mesmo lugar, ao invés de ir socorrê-lo imediatamente. Compreendi neste fato, que Jesus não se deixava levar pelos sentimentos, mas tinha como meta principal fazer a vontade do Pai que, pelo visto, naquele momento, seria que Ele continuasse pregando o Evangelho em Jerusalém por mais dois dias.
Como a viagem até Betânia era longa, Jesus chegou à casa do amigo quatro dias depois de seu sepultamento. Aos olhos humanos, um quadro angustiante: Marta chorando de um lado, Maria do outro e a casa cheia de judeus que tinham vindo apresentar condolências à família e, certamente, chorar também. Era uma situação tão crítica que diz a Palavra: "Jesus pôs-se a chorar". Diga-se de passagem, é a única vez que a Bíblia narra o choro de Jesus.
Bom, mas aí vem o mais importante, como o próprio Jesus declarou ao saber da infermidade do amigo: "... esta doença tem por finalidade a glória de Deus. Pois por ela será glorificado o Filho do Altissímo" (Jo 11,4). Realmente foi o que aconteceu, pois a morte e a ressurreição de Lázaro glorificram tanto a Deus, que despertou ainda mais a ira dos fariseus que procuravam, à partir disso, matar não somente Jesus, mas também Lázaro por causa do número de pessoas que, atraídos por sua vida nova, vinham ao seu encontro e acabavam seguindo seu Mestre e amigo. Imagine a amizade entre Jesus, Lázaro, Marta e Maria; imagine o quanto ela deve ter crescido depois deste fato! Foi, sem dúvida, um dos maiores milagres narrados na Bíblia. O fato reforça a ideia que tenho de que a amizade alicerçada em Cristo produz milagres em nossa vida.
Uno minha reflexão à do saudoso padre Léo; ele nos chama à atenção em seu livro “Experienciai Milagres” para percebermos e valorizarmos os milagres que acontecem todos os dias diante de nossos olhos e que não os valorizamos ou não os percebemos. Um exemplo é o caso de estarmos vivos agora, depois de já termos superado tantas coisas desde o dia do nosso nascimento.
É realmente oportuno se perguntar: "Será que alguma coisa só é milagre quando vem precedida de uma desgraça? Será que só valorizamos a saúde depois que aparece a doença? Se andar depois de se ter ficado paralítico é um milagre, por que não consideramos um milagre o fato de podermos andar, pular e correr todos os dias?
Parece que é até natural ao homem valorizar mais as coisas e pessoas depois que as perde. Basta observar que os momentos de maiores elogios e boa fama são concedidos às pessoas depois de sua morte. Isso não faz sentido. "Uma simples flor dada com carinho em vida, vale mais que grandes coroas de flores enviadas durante o velório".
A reflexão a respeito da vida nova que o Senhor concedeu a Lázaro me faz valorizar mais meus amigos e os milagres do hoje. Faz-me também lembrar que o tempo de Deus é diferente do meu e que, portanto, preciso estar atenta à sua vontade que não pode ser confundida com meus sentimentos.
Hoje, quero dar o devido valor ao milagre que é a minha vida, a saúde, o trabalho e as pessoas que de alguma forma ajudam-me a ser quem sou.
Se você quiser faça o mesmo. Não espere acontecer uma tragédia para perceber o milagre que está ao seu lado! Valorize cada ação, cada fato, cada pessoa e cada acontecimento da sua história. Valorize sua vida, porque ela é o maior milagre de Deus! E como Jesus disse a Lázaro, ouso dizer a você hoje, em nome de Jesus: "...Vem para fora!". E feliz vida nova!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Os caminhos do Senhor

As formas de Deus agir, sempre manifestadas quando Ele se revela, são diferentes do jeito de ser da pessoa humana. O Seu projeto passa a constituir-se como proposta para o nosso proceder. As respostas que damos a Ele devem ser de forma consciente e livre.
As pessoas têm plena liberdade para atender o chamado feito pelo Senhor. Elas devem dizer um "sim" que realmente seja "sim", com autenticidade e coração livre. Muitos trocam seu "sim" pelo "não", deixando de realizar o bem como primeira proposta assumida.
Somos livres para recusar os dons de Deus, podendo até agir de forma contrária, evidenciando nosso orgulho próprio. Foi o que aconteceu com o filho que disse “sim” e acabou realizando o “não”, contrariando a vontade de seu pai.
Pelo nosso livre-arbítrio, podemos escolher fazer o bem ou o mal. Tendo feito a escolha, somos também capazes de mudar de rumo. Isso é sinal de que temos limitações e nunca estamos prontos e totalmente certos sobre o caminho que devemos percorrer.
Diante de tudo isso, o seguimento do caminho do Senhor supõe frequente revisão de vida. É um processo de conversão constante, de discernimento sobre o que seja melhor a ser realizado, e que traga consequências realmente positivas para o bem comum.
Para agir bem é preciso afastar de nós a arrogância e o egoísmo, porque eles ameaçam a convivência e criam privilégios. Com isso deixamos de ser servos. A prática da humildade faz a diferença na construção de uma comunidade fraterna e humana.
Nos caminhos do Senhor temos que evitar uma prática religiosa intimista, que tem um olhar voltado para Deus sem dar importância ao irmão com quem convivemos. É o perigo da prática vertical sem dimensão horizontal da fé, sendo ação apenas subjetiva. Assim caímos facilmente na ideologia da prosperidade, muito falada hoje, de olhar para si mesmo sem dar conta de que os caminhos do Senhor passam pela vida de comunidade. Deus quer nosso trabalho e luta para conquistarmos os bens necessários de sobrevivência.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Atitudes curadoras

Muitos dos nossos erros são reações ao mal que nos fizeram. A compreensão, corretamente manifestada, é um excelente instrumento de cura e restauração. Sem uma palavra de elogio, ninguém tem forças para mudar um comportamento ou corrigir uma atitude.
Quando um apessoa comete um erro, nada a condena mais do que a sua própria consciência. O mais dificil é se perdoar, aceitar-se e redimensionar sua caminhada. As críticas não ajudarão em nada se não forem precedidas de um elogio sincero, honesto, maduro e equilibrado.
A crítica por si só gera frustração, decepção, desânimo e tristeza. O elogio, quando verdadeiro, injeta o ânimo necessário para que se possa refazer a vida. Isso deveria ser a maior função de uma família e uma comunidade: ressaltar valores. Das críticas e acusações, a sociedade já se encarrega.
Há pessoas especializadas nesse ministério encardido. Mas muitos santos, seguindo a pedagogia de Jesus, especialmente em Seus gestos curadores, aprenderam e praticaram o elogio como arma poderosa de cura e restauração.
A exaltação não pode ser confundida com a bajulação. Elogiar é ressaltar as qualidades individuais e precisa coincidir com aquilo que a pessoa já sabe que tem e que está escondido sob a manta do erro. Não adianta querer inventar uma qualidade para enaltecer alguém. Nesse caso, esse alguém logo se percebe enganado e se fecha ainda mais no erro.
O elogio será uma linda gota de cura interior quando refletir um valor da pessoa e reanimá-la a retomar essa qualidade. O enaltecimento é uma palavra de esperança ativa, concreta, possível e realizável.
Infelizmente, essa é uma prática tão remota em nosso meio que, muitas vezes, temos medo do elogio. Quando alguém nos elogia ou ao nosso trabalho, ficamos com o pé atrás, achando que depois, certamente, virá um pedido de ajuda. Por isso, como atitude curadora, o elogio jamais deverá ser acompanhado de um pedido de favor.

domingo, 23 de outubro de 2011

O silêncio é o porteiro da vida interior

Muito me incomoda em nossos tempos modernos o barulho generalizado, ou seja, a falta de silêncio interior e exterior também, para podermos rezar, tomar decisões, escutar a Deus, a si mesmo e aos outros. Outro dia, fui ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida e li numa das colunas internas do local o apelo: Silêncio é também oração! Parece que diante de tudo que a gente vive é necessário falar o tempo todo, pouco se faz silêncio, um dos motivos, penso eu, é que, na verdade, nós temos medo do que vamos ouvir, por isso, o silêncio nos incomoda tanto. E também porque, nos tempos de hoje, não educamos as pessoas para ouvir, vivemos em meio à muita informação e pouca comunicação.
Antes mesmo de entrar no tema da ORAÇÃO nos exercícios espirituais de conversão, percebo o quão necessário é silenciar. Mesmo porque, se oração é dialogo, é fundamental que ela seja intercalada por profundos momentos de silêncio. Este tem a função de abrir espaço para a Palavra do Senhor, Sua direção e Suas moções, mas também abre espaço para que ouçamos a nós mesmos e aos irmãos.
É verdade que o silêncio é imprescindível para rezar, mas não só para isso. Para qualquer diálogo é preciso escutar, calar e ouvir o outro. Nós aprendemos a falar porque escutamos nossos pais e irmãos falando e começamos a dizer as primeiras palavras. É necessário escutar bem para falar bem e na hora certa. É necessário ouvir para aprender. Silenciar para se ter coragem para reconhecer o homem interior. É uma viagem tão pequena a que é feita da mente ao coração, mas nós temos um medo muito grande de realizá-la, porque não sabemos o que vamos encontrar. Por outras vezes, porque o sabemos, não temos coragem de nos recolher no coração e deparar com alguns monstros bem conhecidos.
Existem alguns níveis de silêncio que fogem, muitas vezes, do padrão, pois silêncio não é somente ausência de barulho.
É verdade que o primeiro nível do silêncio é o exterior, que pode incomodar muito e interferir em nossa vida e em nossa saúde. "Sem recolhimento não há profundidade", e vivemos na superficialidade, fazendo muito barulho para não escutar os gritos do nosso interior. O barulho das grandes cidades hoje é um problema até de saúde pública, vemos muitas famílias procurando residências afastadas dos grandes centros, em sítios e cidades menores. Há necessidade de silêncio para descansar o corpo e a alma.
O silêncio interior é, antes de tudo, o mais necessário e imprescindível para o ser humano, para o seu equilíbrio, para discernir e tomar decisões, para ouvir a sua consciência. Mesmo porque haverá momentos em que, mesmo em meio a muitas pessoas conversando, trabalhando, ou até se divertindo, isso não vai nos incomodar pelo nível do barulho feito pelo silêncio interior  existente em nosso interior.  Por isso, a ausência de barulho interior, agitação, nervosismo e distração são essenciais para a vida de todo ser humano.
Esse estado de espírito se desenvolve em nós quando construímos e temos a PAZ. Esta paz não é somente ausência de guerra, de confusão, de brigas; ela provém de um caminho de maturidade e equilíbrio que vamos fazendo em nossa vida, de escolhas, de pessoas que caminham conosco, pois o grupo ao qual nos associamos pode nos tirar ou nos dar a paz. E isso influencia diretamente no nosso interior, no silêncio ou no barulho e confusão que transmitimos.  Daí nós nos tornamos promotores da paz ou da confusão, do silêncio ou do barulho.
"Shalom" é o nome da paz do Ressuscitado, uma PAZ completa que atinge o corpo e a alma de cada homem e mulher,  ultrapassa as condições externas e nasce de uma experiência interior, de uma coragem de encarar a vida e de escutar as vozes de dentro e de fora. Jesus disse para os discípulos, com medo e escondidos no cenáculo, depois da experiência traumatizante da cruz: “Deixo-vos a Paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Cf. João14, 27). Quando Deus visita o interior de nosso coração nasce a Paz, o SILÊNCIO e a Coragem.
Por isso, silêncio não é somente uma questão de "PSIU"! E como é chato ter a necessidade de fazer ou ver e ouvir alguém colocando o dedo indicador na boca e fazendo esse barulho [PSIU], que mais irrita do que resolve. O que resolve, na verdade, é a Paz, o "Shalom" que é a mãe do silêncio interior, que transborda para nossa vida exterior. Desejo para você a Paz, para que possa ter o silêncio e as condições de decidir e viver melhor a sua vida! Se o silêncio é o porteiro da vida interior, façamos com coragem essa viagem preciosa da mente ao coração. Ao mundo desconhecido de nossa alma, de nossa consciência sem medo do que vamos encontrar: dos monstros e das situações do passado e do presente, sentimento de inferioridade e tantas outras coisas que guardamos dentro de nosso interior e que o barulho sufoca essas situações de se manifestar e ser resolvidas.
Sem recolhimento não há profundidade; sem silêncio não se ultrapassa a porta deste mundo interior que está em nosso coração e precisa vir para fora. E você verá que, o conhecendo, encontrará mais surpresas agradáveis.

sábado, 22 de outubro de 2011

A vontade de Deus na vida profissional

A profissão de cada um é um meio para se fazer a vontade de Deus no dia a dia. Viver mal a profissão, trabalhar mal, sem competência e bom desempenho é uma forma de desobedecer à vontade de Deus. O trabalho foi colocado em nossa vida, por Deus, como “um meio de santificação”. Depois que o homem pecou no paraíso e perdeu o “estado de justiça” e “santidade” originais, Deus Pai fez do trabalho um meio de redenção para o homem“Porque escutaste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te proibira de comer, maldito é o solo por causa de ti. Com sofrimentos dele te nutrirás todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e cardos e comerás a erva dos campos. Com suor do teu rosto comerás teu pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado” (Gen 3,17-19).
Mais do que um castigo para o homem, o trabalho foi inserido na sua vida para a sua redenção. Por causa do pecado ele agora é acompanhado do “suor”, mas este sofrimento Deus o fez matéria-prima de salvação.
Sem o trabalho do homem não há o pão e o vinho que, na Mesa Eucarística, se transformam no Corpo e no Sangue de Cristo. Sem o trabalho do homem não teríamos o pão de cada dia na mesa, a roupa, a casa, o transporte, o remédio, a cultura, entre outros. Tudo que chega a nós é fruto do trabalho de alguém; é por isso que o labor é santo e nos santifica quando realizado com fé, conforme a vontade de Deus.
São Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei, durante a celebração de uma Santa Missa, no campus da grande universidade de Navarra, na Espanha, fez uma histórica homilia, como título “Amar o Mundo Apaixonadamente”.  Ele fundou a prelazia para difundir a santidade no trabalho profissional e nas atividades diárias. Na homilia, ele falava da necessidade de "materializar a vida espiritual". O objetivo era combater a perigosa tentação do cristão de "levar uma espécie de vida dupla: a vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e, por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas".
Santo Escrivá, um santo dos nossos dias, canonizado em 2002 por João Paulo II, olhava a vida com grande otimismo e considerava o trabalho e as relações humanas com alegria e dizia que: "O mundo não é ruim, porque saiu das mãos de Deus". "Qualquer modo de evasão das honestas realidades diárias é para os homens e mulheres do mundo coisa oposta à vontade de Deus".
Na verdade, somente com essa ótica podemos entender plenamente o mundo com os olhos de Deus. Nem o marxismo cultural, materialista e ateu, nem o consumismo desenfreado de nossos dias, nem o hedonismo, que busca o prazer como fim, podem dar ao homem moderno a felicidade e a verdadeira paz.
Qualquer que seja o trabalho, sendo honesto, é belo aos olhos de Deus Pai, porque com ele estamos “cooperando com Deus na obra da criação”. Não importa se o trabalho consiste nos simples afazeres de uma doméstica ou nas complicadas tarefas de um cirurgião que salva uma vida, tudo é importante diante do Senhor. O que mais importa é a intensidade do amor com que cada trabalho é realizado. Ele se tornará eterno na vida futura.
São Josemaría Escrivá falava da necessidade de o Cristianismo ser encarnado na vida cotidiana.
“Tudo o que fizerdes, fazei-o de bom coração, como para o Senhor e não para os homens. Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor. Servi ao Senhor Jesus Cristo” (Col 3,13).
Tudo o que fazemos deve ser feito “para o Senhor”. Não importa o que seja, se é grande ou pequeno, deve ser feito tendo o Senhor como o “Patrão”. Se você é lavadeira, então lave cada camisa ou cada calça como se o próprio Jesus fosse vesti-las.
Se você cozinha, faça a comida como se o Senhor fosse comê-la. Se você é um pintor de paredes, pinte a casa como se ela fosse a morada do Senhor. Se você varre a rua, limpe-a como se o Senhor fosse passar por ela... Se você é um aluno, estude a lição como se o professor fosse o Senhor Deus.
É isso que São Paulo quer nos ensinar quando diz que “tudo deve ser feito de bom coração, como para o Senhor, e não para os homens”. É claro que com essa “nova ótica”, você vai trabalhar da melhor maneira possível, com todo o  talento, cuidado, dedicação, competência, honestidade, pontualidade... perfeição, porque o fará para Deus. Isso santifica. Isso muda a nossa vida; e é a vontade de Deus. Isso o fará feliz. Quando trabalhamos assim, toda a vida se torna “sagrada”, pois é vivida plenamente para Deus.
É importante também notar o que São Paulo diz a seguir: “Sabeis que recebereis como recompensa a herança das mãos do Senhor”. Que “herança” é essa? É a vida eterna, o céu, o prêmio, por você ter sido “fiel no pouco”. Isso mostra que cada minuto do nosso labor aqui na terra, vivido por amor a Deus, com “reta intenção” de agradá-Lo, se transforma em semente de eternidade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sem o amor, tudo o que fazemos é inútil

Que a nossa meta seja o amor! O amor cobre uma multidão de pecados, como ensina a Palavra de Deus. Jesus não quer que o vivamos de qualquer jeito, só da boca para fora. Deus não quer um amor fingido!
Amor fingido?! Isso existe?! Existe até demais! Nosso mundo prima pela aparência. Estamos numa sociedade muito frágil, que pôs os seus alicerces não na verdade, mas nas aparências.
Nesta sociedade, as coisas boas só valem a pena desde que sejam vistas, aplaudidas e tragam um retorno ainda maior para quem as fez. Isso não é amor, é comércio; e pode acontecer com cada um de nós se fizermos as boas obras esperando algo em troca.
O amor é gratuito. Não só é gratuito, mas nós o devemos a todos os que de nós se aproximam: "Não tenhais dívida alguma com ninguém, a não ser a de um amor mútuo, pois quem ama o seu semelhante cumpriu a lei" (Rm 13, 8-10).
Como termômetro da caridade devemos lembrar que é importante fazer o bem, mas ainda é mais importante querer o bem, que antes do "bem fazer" venha o "bem querer". Sem o amor, tudo o que fazemos é inútil; nossas boas obras podem até ser aproveitadas por alguém, mas a nós de nada servirão diante de Deus.
O amor precisa ser a raiz de tudo o que fazemos. Como é que Deus nos ensina a amar? Ele nos ensina muito concretamente: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Nosso Pai está nos dizendo que para amar sem falsidade devemos fazer às pessoas tudo o que gostaríamos que alguém fizesse a nós e que não façamos aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem.
Parece simples, mas a nossa velha natureza, marcada pelo pecado, reage mal a essa proposta. Por isso, não podemos buscar as forças neste coração meramente humano, precisamos buscá-las no coração divino, que Deus plantou dentro de nós.
Para amar assim só com um novo coração. Todo batizado tem este "coração novo", o que precisa é usá-lo, exercitá-lo. "Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros" (Rm 12,9).
Quando amamos de coração, o Espírito Santo, que em nós habita, é quem ama em nós. Por nosso intermédio passa o amor do próprio Deus. Nisso o nosso amor é diferente dos demais, por ser amor de Deus: Já não sou eu que amo, mas Cristo que ama em mim!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As bem-aventuranças

No início do Evangelho (Mateus 5,1-12a), Jesus fala com as multidões. Que todos nós nos aproximemos hoje da Palavra de Jesus que nos revela Deus como fonte, razão de toda a felicidade. As bem-aventuranças são a beleza da presença Divina que alcança o homem e o quer feliz.
A primeira bem-aventurança se volta aos pobres em espírito. “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. Ela é para os humildes, para os pequenos. São felizes aqueles que se apresentam diante de Deus com as mãos vazias, porque renunciaram as atitudes orgulhosas.
Devemos olhar cada bem-aventurança e perceber que é um apelo a todo aquele que quer seguir Jesus. Não há lugar no Reino dos Céus para quem não for pobre em espírito.
A segunda bem-aventurança fala aos aflitos. “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”. É a bem-aventurança daqueles que vivem a aflição. O humilde que passa pela aflição em Deus confia. Somente o humilde passa pela aflição confiando e se deixa consolar pelo Senhor.
A terceira bem-aventurança fala da mansidão. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra”. O homem e a mulher, governados por essa mansidão, são aqueles que constroem as coisas desarmados, sem a autodefesa. É alguém que não tem o próprio ego como centro. Somente aquele que é manso, se deixa conduzir por Deus que vai conduzindo-o no Seu querer. A mansidão é segredo da santidade.
A quarta bem-aventurança: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Essa bem-aventurança é para aquele que está sempre com sede da santidade, porque quer ver Deus. Está engajado na vontade divina a todo momento e se angustia se fica longe da vontade do Pai. Somente o sedento da vontade de Deus será saciado no Reino dos Céus. Há essa fome, essa sede em você? O Reino dos Céus é para os sedentos e famintos da vontade do Senhor.
Quinta bem-aventurança: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. As bem-aventuranças partem da humildade, porque chegam na misericórdia. São aqueles que concretamente liberam em seus corações o perdão que reconcilia; não vivem tomados de divisões interiores, porque, em seus corações, reina a misericórdia do Pai. O que reina em seu coração? Se não reinar a misericórdia, você não será feliz.
A sexta bem-aventurança fala aos puros de coração: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.” Os que trazem essa pureza são declarados bem-aventurados por Jesus. Com que você tem alimentado seu coração? Você tem buscado aquilo que é puro e verdadeiro? Caso contrário, seu coração se tornará impuro. No Reino de Deus há lugar somente para os corações puros.
Sétima bem-aventurança: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. Jesus se congratula com os que semeiam a paz, com os que promovem a reconciliação. O shalom do Pai se revela na face, na palavra e nos gestos dessas pessoas. Você faz bem para os outros? As pessoas têm alegria em conviver com você?
A oitava bem-aventurança é para os perseguidos: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. São felizes os que são perseguidos por causa da justiça. Não é uma perseguição por qualquer coisa, mas por causa da fidelidade ao querer de Deus. As demais bem-aventuranças precisam reinar em nosso coração para que, na perseguição, nós tenhamos força.
Na nona bem-aventurança, Jesus se dirige aos discípulos: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”. Essa última bem-aventurança é do discípulo que, de fato, segue o seu Senhor; e não de quem segue a si mesmo. Jesus fala do discípulo que segue a Deus por aquilo que Ele é, não simplesmente por causa da recompensa. É a bem-aventurança do discípulo que sofre pela verdade. Aqui Jesus é a causa da perseguição e também a fonte da salvação. Se você sofre por ser cristão, não fique envergonhado.
Nós precisamos e desejamos a manifestação de Jesus. Essa é nossa esperança e ela está no fato de que somos cidadãos dos Céus. Somos vocacionados para a eternidade. A felicidade não está nesse mundo, mas ainda tem muita gente buscando a plenitude naquilo que é passageiro.
O homem é aquilo que ama e admira. Somente uma vivência de fé coerente suportará a tribulação. De outra forma, ninguém a suportará, pois é violenta demais para aqueles que não viveram seu batismo.
Cuidado com aquilo que você tem amado, porque, senão, você não será esse bem-aventurado do Evangelho.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Rezar é abrir-se a Deus

Ninguém se coloca sob o sol sem se queimar. Se tomar sol você vai sofrer as consequências dele. Com Deus acontece algo semelhante, ninguém se coloca na presença d'Ele sem ser beneficiado por ela. As marcas da presença do Todo-poderoso também são irreversíveis para a nossa salvação. Quando nós nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo, Ele nos dá liberdade. Nunca o Senhor pensou em trazê-lo para perto d'Ele para tirar algo de você, muito menos para limitar a sua liberdade. Se Ele não quisesse que fôssemos livres, por que teria nos criado livres?
Nossa liberdade ficou comprometida por nossa própria culpa, porque quem peca se torna escravo do pecado. Pelos erros e pelos vícios que entram em nossa vida ficamos debilitados. O Pai nos deu Cristo para nos libertar daquilo que nos amarra. Deus nos mostra quais caminhos podemos seguir, mas a liberdade de escolher é nossa. O desejo do Senhor é libertar você de toda a angústia, de toda a opressão. O desejo d'Ele é vê-lo feliz.
Veja em Gálatas 5,1: "É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão".
Cristo amou você, morreu numa cruz por sua causa, para que você não fosse escravo do pecado. O Ressuscitado nos libertou de todo o mal, de toda armadilha do inimigo para que permaneçamos livres. Contudo, ninguém é livre na maldade. Uma vez que o Espírito Santo visitá-lo, não dê brecha para o pecado.
Quem conhece as coisas que há no homem, senão o espírito do homem que nele reside? (cf. Coríntios 2, 10-16). Assim também ninguém conhece as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
Ninguém pode saber o que está em seu interior se você não abrir a boca e disser. Quando você reza, Deus Pai o refaz e o Espírito Santo o cura e liberta. Rezar é ficar nu na presença de Deus, é se abrir a Ele. Quando você está rezando, coloca-se na presença do Altíssimo, se expõe e é curado. Quando você tira a roupa diante do espelho, vê o que quer e o que não quer. Na hora em que estamos rezando, caem as nossas roupas - espiritualmente falando - e, do mesmo modo, vemos aquilo que queremos e o que não queremos. Tudo que eu faço de mau volta para mim no momento da oração. As feridas que nós ignoramos, na oração não conseguimos ignorá-las, porque, nesse momento, Deus as revela para nós ao nos curar. No momento em que o Senhor me mostra quem eu sou, Ele também mostra quem Ele é. Se Ele me revela uma coisa que não está boa, é porque é preciso consertá-la.
Na oração nós aprendemos a ouvir o Senhor. Não existe ninguém que, tendo rezado, Deus não o tenha respondido. E se Ele não lhe responde diretamente, vai fazê-lo por meio de uma pessoa ou de um fato, mas Ele responde. Nós precisamos aprender a ouvi-Lo na oração para conhecermos os planos que Ele tem para nossa vida.
Eu e você precisamos, na oração, pedir ao Espírito Santo que nos faça descobrir o que está ruim ali dentro. Deus sabe o quando você foi machucado e sabe como curá-lo.
A nossa vida inteira é um processo de cura interior. Enquanto você estiver com os pés aqui nesta terra, sua vida será um processo de cura interior. Nós temos que nos apresentar diante de Deus. 
O Todo-poderoso tem um plano na sua vida, um plano de amor, um plano de realização e de felicidade para você. Se você não abre o seu coração para a oração, corre o sério risco de morrer sem conhecer o plano que Deus tinha para você.